Thursday, September 20, 2007

Novembro Negro


Estou nu e deitado numa poça de sangue, já lá vão 7 anos de batalhas numa guerra que só perco, as feridas não saram e o sangue não para de correr. Tenho frio e mal consigo falar pois o sangue coagula-me nos lábios, e também não quero. Os abutres, rejubilam-se com tamanha podridão, o meu cheiro aguça-lhes o apetite, mas esperam e vão-me apreciando a morrer lentamente.
Tento esquecer as memorias e a vida por momentos, para tentar viver, mas não consigo, o amor e a saudade, dão lugar à dor e ao ódio e começo a viver do negro da vingança. Os meus olhos ardem de tanta lágrima, os meus maxilares, rangem e parecem querer rasgar o sangue entre os dentes.
Agarro mais um pouco de terra como se me pudesse apoiar para me levantar, lentamente, o negro do odio, volta a fluir membro a membro e vou voltando a me levantar, ferido, sujo, morto por dentro e derrotado por fora. Procuro sentir, curar-me, agarrar de novo o meu destino e perceber onde posso continuar a respirar. Os cães de guerra deixados pelos momentos de angustia anteriores, acordam do sono e mostram a saliva dos dentes cerrados e rosnam enquanto parecem se deliciar com o avermelhado do meu sangue. De olhos vermelhos vivos começam a correr para me dilacerarem mais um pouco. Grito de dor enquanto me tento levantar e volto a tentar correr até ao lago, agarro as pedras que posso e arremesso-as com toda a a raiva que tenho, mas os cães são parte de mim e ao magoa-los, estou-me a magoar a mim mesmo. A aqui entre vales e lagos de infindável branco e vazio, tento me levantar para a caminhada, seguindo a luz do barco que está encostado, sinto-me cada vez mais pesado com o tempo.

Não sei porque vivo com isto o tempo todo, mas fechado por dentro, vou tentando andar, o pior de tudo está dentro de mim. O cancro da saudade e da falta dos dois, espalha-se e pára-me os músculos. Olho para o meu pulso e vejo o sangue que tenta correr, lembro-me de quem sou e o que represento e vou continuando enquanto a dor me vai corroendo e as pedras brancas que rodeam o lago me vão cortando a palma dos pés.

Vem!!! Enfrenta-me! Estou a dar em doido com tamanha cobardia da tua parte! Porquê!?! Porquê?!Grito até ficar sem voz. Mas do outro lado apenas trovões e chuva são a resposta, de um lugar onde não posso nada fazer. De certa maneira começo a entender que a dor só me mata e começo a conseguir me afastar e passo o meu arquinimigo para confiante mestre e pergunto-lhe porquê. Como não obtenho resposta, passo a quem de mais próximo...

De joelhos junto ao lago, avisto a barca da fada que me vê e me estende os braços, sei que tenho de ir, que tenho de deixar esta ilha maldita onde me meti na esperança de vencer o invencivel e de repor o impossivel. Antes de mergulhar abro os braços e o vento frio tenta me mandar ao chão.

Olho o ceu cinzento e volto a gritar: Estão-me a ouvir? Há algo que me possam dizer? Será que me estão mesmo a ouvir? Vão-me deixar assim? Tenho de viver , tenho de conseguir parar esta sangria que me mata e nao me deixa viver, pois preciso de continuar a minha vida. Eu não consigo enfrentar o que era, não me voltem as costas, oiçam-me! AMO-VOS, Não é justo continuar assim! Continuar assim, Não!

Atiro-me à agua e deixo-me andar agarrado ao tronco que estava na praia...


Posso ser eu mas jamais conseguirei sarar estas feridas....O odio...hei-de o perder...

Tuesday, September 11, 2007

Dulce et decorum est pro cruore mori"


Diz-me mãe o que vês. neste meu corpo
diz-me mãe se LHE devo perdoar esta ferida
voltei lá sabes? sim sabes..
voltei onde me ajoelhei a última vez,
voltei onde me verguei aos SEUS pés
mesmo assim, de preces, paredes e vidros santificados
Levou-te e deixou-me sozinho nos prados


E agora? Diz-me mãe e agora?
Sou quem devia já ter sido sem vocês cá
carrego a cruz e as chagas que sangram a cada aurora
e no entanto procuro a paz inalcançável em braços, abraços, sem fauna ou flor
porque este meu mundo não é o mesmo mã, o velho mundo morreu e so ficou o vosso amor

Diz-me mãe, se vale a pena... morrer e embainhar a espada,
ou se simplesmente continuo...levanto-me e viro costas a um reino a arder
e de puro sangue lusitano por-me a cavalgar e a gritar
para dentro do campo contra anjos e demonios combater
se devo a cruz a bandeira e o sangue defender.

Diz-me mãe se estás bem, diz-me mãe, diz-me mãe
porque se não mo disseres não sei...
não sei que reino defendo, só o que defendia
Diz-me mãe... se lhe perdoo, mesmo tendo-me tirado o que mais queria...

Por cada gota 1 dia, por cada memoria 1 ano, por cada dor 1 vida

Outrora, Agora e sempre vosso